Paulo Stucchi

Conheça um pouco mais sobre o Jornalista e Escritor.

Fui apresentado ao mundo mágico da literatura na infância. Entre as primeiras imagens retidas pela minha memória estão as de minhas tias, todas professoras, deitadas no sofá. Cada qual com um livro. Que sorte!

Estreei no entendimento das letras, assim como muitos com Marcos Rey e o “Rapto do garoto de ouro”. Ao lado de outros da antiga Coleção Vagalume, este livro foi a força motriz para meu primeiro ensaio como escritor. Aos nove anos, descobri a Olivetti do meu pai com um romance sobre um grupo de jovens que investigam o desaparecimento de um amigo. Foram 360 páginas datilografadas. Guardadas até hoje com a máquina.

E assim se seguiu. Da Coleção Vagalume parti para voos mais ousados de Moby Dick à paixão por Hercule Poirot, de Agatha Christie. Posteriormente, fui apresentado a um mundo intimista com livros policialescos norte-americanos e descobri minhas primeiras paixões literárias: Dom Casmurro e Angústia.

Mais do que hobby, escrever era a forma de um garoto tímido fugir da realidade para criar um mundo só seu.

Muitos foram os gênios operários que ajudaram a construir minha paixão pela língua portuguesa por meio de tijolos inestimáveis. Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Ariano Suassuna, e, obviamente, Graciliano Ramos e Machado de Assis. De outras línguas, Kensaburo Oe, Haruki Murakami, Kazuo Koike, Natsuo Kirino, Hening Mankel, Franz Kafka, Liev Tolstoi, Stieg Larsson, Roberto Ampuero e, mais recentemente, Kamila Lakenberg, Jo Nesbo e o genial Carlos Ruiz Zafon.

Em meio às leituras, as produções literárias também cresciam. Aos 16 concluí meu primeiro romance, “O porta retrato”, sobre o suicídio de um adolescente que, morto, procurava uma explicação para o seu ato. Para minha surpresa, o livro foi lido e elogiado por alguns membros do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Houve ainda outras produções que optei em guardar em meu repertório particular.

A vergonha da exposição foi finalmente vencida em 2008 quando decidi publicar “O Natal sem mamãe”, originalmente escrito em 2003 para uma peça de teatro. E em 2010, mais confiante arrisquei em um enredo policial com “A fonte”.
Retornando aos roteiros intimistas e ao drama, publiquei, em 2012, meu primeiro romance de fundo histórico e distribuição profissional: “O triste amor de Augusto Ramonet”. Foi meu primeiro trabalho de trato mais fino.

Na mesma época, vivenciei uma fase de dúvidas entre prosseguir minha carreira de jornalista e arriscar novos rumos em História. Foi um período de pesquisas e viagens para um projeto de mestrado na USP sobre a Guerra do Paraguai, episódio pelo qual sempre tive fixação desde o ginásio.

O mestrado não saiu, mas o quarto livro, sim: “Menina”, que tem como pano de fundo o conflito no Paraguai, o mais sangrento já ocorrido na América do Sul.

Tudo que sou e o que me tornei devo à minha inconformidade com a realidade dos tempos de criança e a paixão pelos livros herdada de minha família. Escrever, em minha opinião, é ampliar horizontes de sonho, expandir o que é real, brincar com o verossímil, modelar dramas e amores em novas perspectivas.

Sempre há algo novo a ser escrito, descoberto ou reescrito.

O desejo de retirar o véu da outra face do possível é o que move o escritor adiante. É seu ar e força o combustível para que novas ideias se transformem em páginas e, de páginas, na brincadeira lúdica formatada em volumes: o livro.