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Crédito: Divulgação

 

Certamente, um dos livros mais desafiadores que li nos últimos tempos. Isto porque o tema religião, fé, vida espiritual e imortalidade da consciência (ou espírito) sempre foram temas que me causaram inquietação. De qualquer modo, vale muito a pena mergulhar na troca amistosa de ideias entre o Pe. Fábio de Melo e o historiador Leandro Karnal.

Para quem procura posições apimentadas, esqueça! Todo o debate é conduzido num tom morno e amistoso. Aliás, em vários trechos, nota-se um Karnal respeitoso e admirador do Pe. Fábio, que, em meu ponto de vista, surpreende com suas colocações.

Chama a atenção a crítica que ambos fazem sobre o exercício da fé cristã, a necessidade dos ritos, dogmas e símbolos, e como esses elementos sufocam a verdadeira prática do Cristianismo (e de qualquer religião).

Ponto positivo para Karnal quando ele cita Dostoiévski e seu personagem inquisidor que, de modo ficcional, interroga o Cristo em pessoa, afirmando-lhe que a fé que Ele vem divulgar é inatingível para o homem, que precisa de inimigos concretos (diabo), manuais de como agir em cada situação (ritos e dogmas) e de um Deus humano e censor.

Pontão para Pe. Fábio de Melo, que reforça preferir a fé intimista que leva à evolução espiritual do que os ritos e símbolos – para ele, esses elementos servem, sim, para reforçar a fé, mas não devem estar objetos-fim, mas objetos-meio.

Acho que a contundente provocação de Karnal ao comparar a terapia psicanalítica com o confessionário ilustra o cerne da obra: a confissão, segundo ele, traria mais efeito do que a psicanálise, já que é uma prática de resultados rápidos, que podem ser atingidos através de meia dúzia de Padres Nossos e uma penitência. Rebatendo, Pe. Fábio afirma que é justamente contra essa postura que a Igreja deve lutar – e assim gerar padres focados no desenvolvimento espiritual dos fiéis, ao invés de reforçar rituais (chamados em alguns pontos de paganismos).

Se querem uma opinião, vale a leitura, que desnuda um Leandro Karnal mais crente do que ateu, e um Pe. Fábio lúcido e preparado para colocar a fé em seu devido patamar diante do contexto moderno.